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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Arbitragem brasileira vira moda nos Estados Unidos

O jogo acabou e o assunto mais comentado pelas redes de televisão, torcedores, jogadores e dirigentes foi o grave erro cometido pela arbitragem durante a partida.

Não, não estamos falando do campeonato brasileiro e o seu já conhecido fraco nível de arbitragem. Estamos falando da liga esportiva mais rentável e rica do mundo, a NFL, o futebol americano.

Jennings agarra a bola que garantiria a vitória do Packers
Responsável por cifras milionárias e por audiência de milhões de telespectadores no Super Bowl, sua final do campeonato, a National Football League (Liga Nacional de Futebol) dos Estados Unidos passou por uma grave crise na arbitragem.

As ‘zebras’ – como são chamados os juízes  pelo uniforme listrado em branco e preto – estavam em greve, não aceitando os termos da renovação trabalhista da NFL. 

A situação é similar ao que ocorreu na NBA, a liga norte americana de basquete, na temporada passada, quando o locaute dos jogadores atrasou o início da temporada.

Para que o já apertado calendário do futebol da bola oval não sofresse maiores prejuízos, os dirigentes da liga optaram por usar ‘árbitros reservas’ nas primeiras rodadas do campeonato. Ou seja, zebras que atuam em jogos do futebol universitário foram escaladas – e tiveram que escalar diversos níveis – para atuar nos jogos da elite do esporte.

O choque deve ter sido grande para esses homens, pois os erros foram se acumulando partida a partida. 

A gota d’água veio na última segunda-feira (24), durante o Monday Night Futebol - horário nobre da televisão estadunidense geralmente reservado para uma das principais partidas da rodada.

Em campo estavam Seattle Seahawks e Green Bay Packers, sendo que os Packers liderava a partida por 12 a 7 com menos de 10 segundos para o encerramento. O quartebacker Russell Wilson, de Seattle, lançou a bola para a endzone com oito segundos no relógio, em uma última tentativa de marcar o touchdown da virada. Em meio ao bolo de jogadores de ambas as equipes que subiram para agarrar a bola oval, MD Jennings, de Green Bay,  agarrou-a , impedindo os pontos.

Entretanto, Golden Tate, wide receiver do Seahawks, que já tinha cometido falta ao empurrar um adversário antes de pular, tocou na bola, e a arbitragem validou o touchdown. 

A situação só piorou quando, mesmo revisando durante 10 minutos o vídeo do lance, os árbitros mantiveram a marcação inicial, dando a vitória para o Settle Seahawks por 14 a 12. A decisão deixou o técnico derrotado, Mike McCarthy, transtornado. "Não me façam uma pergunta sequer sobre os árbitros. Nunca vi nada parecido em toda a minha carreira", vociferou após a partida.

Árbitros 'reservas' não agradaram no início da temporada
Em tempos de continua discussão sobre a implementação de tecnologia no nosso futebol, a falha em solos americanos comprova que, mesmo com as mais avançadas tecnologias e a possibilidade de rever lances, ainda é preciso ter gente capacitada para comandar os jogos.

Greg Jennings, também do Green Bay, fez coro ao seu comandante. "Se você colocar o Golden Tate em um detector de mentiras e perguntar se foi ele ou o MD que pegou a bola, ele vai dizer que foi o MD. Foi muito claro", disse.

Não bastasse a incrível derrota sofrida, os jogadores do Packers, que já estavam rumando para os vestiários após a controversa decisão, ainda passaram pelo constrangimento de  recolocar os capacetes e voltar a campo para cumprir a formalidade do "extra point", o chute entre as traves que confere mais um ponto ao time que marcou um TD.

Acerto com os árbitros principais

Quem gostou - e muito - da série de confusões vistas nas três primeiras rodadas da NFL, foram os árbitros 'titulares'. Após a enorme repercussão negativa envolvendo o grave erro de segunda, a liga aceitou as reivindicações do quadro principal de arbitragem e selou a renovação por oito anos.

Com o novo acordo a arbitragem passa a receber mais de 14 mil dólares por mês. Nada mal, apesar dos vencimentos de 2011 não estarem tão ruins – aproximadamente 12 mil dólares/ mês. 

A 'zebras' principais já estiveram em campo na quinta-feira (27) para comandar a partida entre Cleveland Browns e Baltimore Ravens, vencida pelos Ravens por 23 a 16.

Pelo menos, ao final da história, a Liga atendeu ao apelo de Everaldo Marques, narrador dos canais ESPN e ESPN Brasil, que encerrou a transmissão do fatídico jogo de segunda-feira com o apelo. "Paguem as zebras, pelo amor de Deus!".

Confira o lance polêmico do jogo entre Packers e Seahakws:



Guilherme Uchoa
Fotos: Getty images e AP

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A furada em que se meteu Hulk


Imagine você sair de um clube onde possui reconhecimento, carinho da torcida e histórico de títulos, para aportar em um novo time com menos prestígio internacional, conhecido mais pelos graves casos de discriminação por parte de sua torcida, em que os companheiros não te vêem com bons olhos e, por fim, onde até mesmo o presidente do país critica sua contratação.

Hulk foi comprado pelo Zenit St. por R$ 143 milhões
Pois é, o atacante da seleção brasileira Hulk mal chegou ao seu novo clube, o Zenit de São Petersburgo, na Rússia, e já sofre com chumbo cruzado vindo de todas as direções.

Comprado pelo clube russo junto ao Porto por 55 milhões de euros (aproximadamente R$ 143 milhões), o atacante sofreu críticas do meia russo Igor Denisov, que disse que "Hulk não é Messi e nem Iniesta. Compreenderia se tivéssemos contratando um desses dois, já que provavelmente não tem preço". 

As críticas de Denisov, também destinadas ao meia belga Witsel - que veio do Benfica -, dizem respeito ao salário que a dupla receberá do clube, muito acima dos vencimentos que seus companheiros possuem. A imprensa russa estimou que o brasileiro receberá algo em torno de R$ 17 milhões por ano. Pela dupla, o time russo desembolsou 100 milhões de euros.

Igor Denisov criticou salário de Hulk
Denisov recusou-se a jogar até receber aumento salarial e acabou afastado do elenco principal do Zenit, passando para as equipes menores. Informações do diário Sovietskii Sport dão conta de que o russo não aceitou pedir desculpas ao brasileiro, mesmo depois de solicitação de retratação dos dirigentes do clube. 

Talvez por herança de tempos socialistas, os russos não estão acostumados com grandes discrepâncias salariais em um mesmo ambiente.

Não bastasse Denisov, o presidente da Rússia Vladimir Putin, natural de São Petersburgo, afirmou não estar de acordo com os altos valores gastos por clubes através de seus patrocinadores para contratações. Questionado se o dinheiro investido nos jogadores não seria melhor aproveitado em atividades culturais, Putin disse que condena os diretores das grandes empresas patrocinadoras, ressaltando que são elas que despendem esses valores considerados exorbitantes.  

Como reflexo das afirmações polêmicas, o diário russo Izvestia noticiou na terça-feira (25) que os jogadores do Zenit estariam boicotando Hulk. Após o afastamento de Denisov, o atacante brasileiro teria tentado amenizar o ambiente no clube conversando com todo o grupo. Entretanto, a partir de então, seus colegas recusaram-se a conversar com ele.

O conhecido empresário Alexei Safronov, defendeu o atacante. "Qual é a culpa dele? Ele entra em campo e faz o seu trabalho. Hulk venceu pelo Porto e joga na seleção brasileira. Não foi encontrado em uma lixeira", disse Safronov a um portal de notícias.  

Não bastasse isso, outro problema que Hulk ainda não passou, mas poderá passar, é a discriminação por parte da torcida do Zenit. Os "Ultras", como são conhecidos os cinco mil torcedores radicais do clube, não aceitam negros em seu time, fazendo com que a diretoria não busque atletas africanos ou sul americanos.
Hulk terá de provar seu valor na Rússia

Mais do que isso, o grupo é responsável por gritos e manifestações raciais durante os jogos. Para citar apenas os brasileiros que já sofreram esse tipo de atitude no estádio Petrovsky, o lateral esquerdo Roberto Carlos abandonou uma partida entre Zenit e seu Anzhi em fevereiro de 2011, depois de ter uma banana atirada em sua direção. No mesmo jogo esses torcedores imitaram sons e gestos de macaco quando algum negro tocava na bola.

O atacante Vágner Love, do Flamengo, disse que por duas ou três vezes sofreu com racismo quando ainda jogava pelo CSKA em partidas contra o Zenit. "É sem dúvida, o time mais racista da Rússia", disse.

Na terça-feira Hulk fez um dos gols de seu time na apertada vitória por 2 a 1 sobre o Baltika, ajudando o time de São Petersburgo a avançar de fase na Copa da Rússia, e foi cumprimentado, mesmo que modestamente, por vários companheiros em campo.

O futebol costuma superar barreiras culturais e aproximar pessoas de locais distintos. Para Hulk, mais do que nunca, seus gols deverão ser usados para aquietar os ânimos da ignorante torcida russa e calar os próprios companheiros de clube, convencendo-os de que o investimento feito pelo Zenit é válido.



Confira o gol marcado por Hulk contra o Baltika e a reação de seus companheiros:


Guilherme Uchoa 
Fotos: Divulgação Zenit

sábado, 1 de setembro de 2012

Esporte Clube Sírio resgata ídolos do basquete brasileiro

Cena recorrente: Sucar dando autografo para jovem
A cena repetiu-se diversas vezes durante o sábado (25) no ginásio do tradicional Esporte Clube Sírio, em São Paulo. Os meninos Renan e Daud, ostentando camisas do clube com os números 5 e 48, respectivamente, além de seus nomes bordados, circulavam entre os gigantes ex-jogadores de basquete do clube colhendo autógrafos para o exemplar do livro ‘Kanela, um eterno campeão’  que carregavam.

A oportunidade era única: diversas lendas da seleção brasileira, e que também escreveram história no Sírio, estiveram presentes à quadra para a reinauguração da Galeria dos Imortais – homenagem prestada aos 11 atletas que mais vestiram a camisa do clube – além do espaço destinado aos campeões mundiais interclubes, conquistado em 1979.

Auxiliados por parentes, os meninos identificavam os gigantes em meio ao publico presente, composto por ex-atletas, familiares e sócios, para conseguir os registros no livro que conta a trajetória de Togo Renan Soares, vulgo Kanela, comandante da seleção nacional durante seu período mais vitorioso.

A homenagem conferida fez com que estivessem reunidos alguns representantes da seleção brasileira que, sob comando de Kanela, conquistou dois mundiais (1959, no Chile, e 1963, no Rio de Janeiro) e duas medalhas de bronze em Jogos Olímpicos (1960, em Roma, e 1964, em Tóquio).

Com o nome na Galeria, Menon fala ao Faculdade da Bola 
Entre os representantes ‘sírios’ que faziam parte da geração mais vitoriosa do basquete nacional, estavam Amaury Pasos (presente em todas essas quatro maiores conquistas), Mosquito e Antônio Sucar (campeões mundiais de 1963 e medalhistas de bronze de 60 e 64), Victor Mirchauswka (mundial de 63 e Olimpíadas de 64), e Luiz Cláudio Menon (campeão mundial em 63, mas que não esteve em Tóquio no ano seguinte por decidir dedicar-se aos estudos universitários). Desses, Amaury e Victor não estiveram presentes à celebração.

O pivô   Luis Cláudio Menon, campeão mundial em 1963, ressaltou a importância e satisfação pela homenagem recebida. “É um dia especial em minha vida. A galeria dos imortais já existia, de uma maneira mais simplória. Era simplesmente uma camisa com o nome do atleta e seus títulos, mas hoje a diretoria refez essa galeria, tornando-a maravilhosa. Foi uma homenagem maravilhosa, que esta registrada através de algumas fotos que jamais nos esqueceremos”, disse Menon. “É uma enorme satisfação sermos homenageados em um país que não tem memória. O Sírio está contrariando essa máxima”, destacou o pivô, que defendeu o clube durante toda sua carreira, entre 1963 e 1974.

Observado por Menon, Renan (5) colhe mais autografos
Do grupo dos campeões mundiais pela agremiação, em 1979, Oscar e Marcel faziam parte da seleção brasuca vencedora do memorável pan-americano de Indianápolis, em 1987, contra os Estados Unidos, donos da casa. A dupla teve seus nomes gravados na placa ao lado do placar eletrônico da quadra, juntamente dos outros integrantes do time, técnico e dirigentes.

Atualmente o Esporte Clube Sírio não possui mais equipes profissionais de basquete, mas ainda conta com categorias menores, mantendo o incentivo à prática da modalidade no país, o que pode ser comprovado pela grande quantidade de crianças e adolescentes praticantes do esporte no evento.

Dentre estes jovens, Renan e Daud já contavam com o livro repleto de rabiscos ilegíveis ao final das celebrações. Para eles, assim como para quase todos, pode ser difícil identificar os autores de cada um dos garranchos. Entretanto, não é nada que interfera na verdadeira aula de basquete e história que todos os presentes tiveram naquela agradável manhã de sábado.

A Galeria dos Imortais e dos campeões mundiais podem ser vistas ao lado do placar eletrônico 

Guilherme Uchoa


Fotos: Guilherme Uchoa