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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Copa de 98 ainda não acabou

Ronaldo choca-se com Barthez em 98
Em julho de 2012 a seleção brasileira comandada por Mano Menezes prepara-se para estrear nos Jogos Olímpicos de Londres, concentrada inicialmente no sucesso na renovação de seu grupo - visando a Copa do Mundo de 2014 no Brasil - e também na luta pela inédita medalha de ouro. Não que um aspecto não esteja estreitamente ligada ao outro.

Entretanto, em julho de 1998 o momento era totalmente diferente. O país inteira uniu-se diante de aparelhos de televisão naquela tarde de domingo, dia 12, apreensivos com a colisão de sua principal estrela com o goleiro Barthez, durante a decisão da Copa do Mundo entre França e Brasil, na casa dos adversários. A França, de Thuram, Deschamps e Zidane já havia sediado a terceira edição da Copa em 1938 (conquistada pela Itália), e tinha o moderníssimo State de France, em Saint-Denis, lotado à seu favor.

O Brasil era o atual campeão mundial, com o título conquistado pela dupla Romário e Bebeto nos Estados Unidos em 1994. Quatro anos depois, chegavamos a mais uma final, desta vez sob o comando de Ronaldo, então com 21 anos - a estrela que se chocou com o arqueiro francês durante bola dividida.

A preocupação exagerada demonstrada pelos companheiros de Fenômeno no momento do choque é justificável. Horas antes do início do confronto, boatos davam conta de que Ronaldo havia sofrido convulsão e que Edmundo jogaria em seu lugar. 

Momentos antes da bola rolar, o técnico Zagallo acabou escalando Ronaldo e o time, a exemplo do seu camisa 9, jogou mal e foi facilmente abatido por Zinedine Zidane e seus companheiros, na derrota por 3 a 0 (dois gols do craque Zidane e um de Petit). Foi impossível não relacionar a fraca atuação brasileira com o episódio envolvendo Ronaldo, que segundo Zico, então coordenador da seleção, foi presenciada por alguns jogadores, que consequentemente ficaram assustados e abatidos.

Ronaldo teria pedido para atuar na decisão contra França
Mário Zagallo confirmou a apatia e desanimo que os jogadores sentiram com a notícia da ausência de seu principal artilheiro para a decisão. "Fomos para o estádio da final, no ônibus onde era sempre muita animado não havia batuque, o clima parecia de um enterro. Chegamos ao local do jogo e antes da partida começar, Ronaldo entrou no vestiário vindo da clínica, pedindo para jogar. Pedia pelo amor de Deus para atuar e afirmava que estava se sentindo bem", disse. "Ele ter participado da final contra a França não afetou em nada o time, o que realmente abateu a todos foi o fato que aconteceu no dia do jogo. Eu pensei que a entrada dele fosse dar uma euforia ao time, só que isso não aconteceu", revelou o ex-técnico.  

Apesar de não ser um dos momentos mais gloriosos dentro da rica história de conquistas da seleção canarinha, o episódio até hoje despertar a curiosidade e o interesse do torcedor. Passado pouco mais de 14 anos da histórica partida, divergências referentes ao assunto ainda podem ser acompanhadas pela mídia.

Em fevereiro deste ano, Ronaldo utilizou uma de suas redes sociais, o Twitter, para refutar a versão apresentada por Bruno Carù, presidente da sociedade italiana de cardiologia esportiva, que alega ter analisado - ao lado de Piero Volpi, médico da Internazionale de Milão, então clube do craque - os exames realizados por médicos franceses em Fenômeno no dia 12 de julho, e constatado que a convulsão sofrido pelo atacante foi motivada por uma diminuição repentina nos batimentos cardíacos do jogador.

"Ronaldo estava deitado assistindo a uma corrida de Fórmula 1 e sem perceber, ao longo do tempo, inclinou a cabeça, forçando o pescoço e comprimindo o glômus carotídeo, um pequeno orgão responsável por regular a frequência cardíaca e a pressão arterial", afirmou Carù em fevereiro. "Depois ele teve uma queda súbita no batimento cardíaco e na pressão, desmaiando com as convulsões", afirmou o médico a um programa de televisão italiano.

R9 usou o Twitter para desmentir versão do médico Carù
A resposta do ex-jogador em sua rede social nega a versão de Bruno Carù, mas não esclarece os acontecimentos. "Lamento muito ver 14 anos depois oportunistas ainda tentarem ganhar espaço na mídia internacional com polêmicas sobre a Copa de 98. Tenho certeza que o assunto foi exaustivamente apurado e já está mais do que superado", digitou Fenômeno.

Mesmo ainda permanecendo nebulosas as razões que levaram o maior artilheiro em Copas a sucumbir instantes antes de um dos momentos mais importântes de sua carreira, sabemos em partes os bastidores e sequência de acontecimentos daquele domingo, que culminaram com a pífia atuação brasileira.

"Quando cheguei no quarto do Ronaldo, ele estava sentado na cama, paralisado e o Roberto Carlos do lado com cara de assustado. Disseram que ele teve uma convulsão. Quando perguntei se estava tudo bem com ele, ele só olhou pra mim e deitou. Já às17 horas fomos jantar e vi o Ronaldo perto da porta do refeitório. Ele tentou fazer um tipo de aquecimento e eu disse brincando 'o jogo é às 21 horas, já está aquecendo?', e ele disse 'Não sei o que aconteceu. Fui dormir, acordei e parece que levei uma surra!'. Depois do jantar, fizemos uma reunião com a comissão técnica e o médico disse que Ronaldo não tinha condições de jogo", contou Zico, em entrevista ao programa Bem Amigos, da Sportv.

"Quando faltava uma hora para começar o jogo, Ronaldo, já uniformizado, disse que havia jogado a copa inteira, que seus exames não haviam constatado nada e que iria jogar", revelou o eterno camisa 10 do Flamengo.

A palavra final sobre a escalação de Fenômeno coube a Zagallo. "Diante do silêncio de todos, chamamos o Ricardo Teixeira [ex-presidente da CBF] para decidirmos o que fazer. Então tomei a decisão de escalá-lo", relatou o velho lobo.

Zidane e companheiros com a Taça do mundo de 1998
Outras versões sobre o problema de Ronaldo e o que teria acontecido com o grupo, que contava com grandes jogadores como Roberto Carlos, Rivaldo, Bebeto, Cafu e Taffarel, ainda são ventiladas. A mídia esportiva à época divulgou que a convulsão foi fruto do grande estresse e pressão que o artilheiro sofria. Outros dão conta de que o médico da seleção Lídio Toledo teria realizado infiltração no joelho do craque, com substância que causou efeitos colaterais.

Ainda há outros mais extremistas que sustentam teoria de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria vendido o título para uma poderosa fornecedora de materiais esportivos. Claro que faltam provas e evidências que deem credibilidade para essas suposições, mas é justamente a falta de esclarecimento dos acontecimentos daquele dia que fortalecem as mais diversas teorias.

O que sabemos é que futebol vai muito além do que acontece dentro das quatro linhas. Os fatores externos influenciam em muito o resultado de uma partida, e certamente o que o mundo inteiro acompanhou diretamente do State de France naquele dia 12 de julho vai muito além de apenas bola no pé. São acontecimentos pouco claros que fazem com que os 90 minutos daquela partida tenham terminado, mas a final da Copa do Mundo de 1998 ainda esteja rolando. Mesmo depois de 14 anos.

A convulsão, que teria sido presenciada por alguns companheiros de Ronaldo, teria abalado o ambiente da seleção
Zico relatando detalhes do dia da final entre Brasil e França:

Melhores momentos da partida França x Brasil, pela Copa de 98:
Guilherme Uchoa
Fotos: George Herringshaw, Reuters e Célio Jr.
Vídeos: Sportv e Rede Globo

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