O nome do torneio é ‘Eurocopa’, o que pressupõe apenas a participação de jogadores nascidos em solos europeus. Entretanto, tem brasileiro, australiano, marfinense, congolês, senegalês e até iraniano em campo.
No futebol globalizado, com fronteiras cada vez menos distantes, naturalização tornou-se algo acessível e corriqueiro. O resultado é que grande parte das seleções que disputam a Euro-2012 possuem algum atleta entre os convocados que são naturalizados, ou tem ligações estreitas com outras nações.
O futebol brasileiro, produto de admiração e exportação para os ‘gringos’ do primeiro mundo, é um dos que mais tem representantes de dupla nacionalidade na competição – são três brasucas vestindo outras cores.
Os brasileiros
Thiago Motta nasceu em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, mas desde 2010 defende a seleção azzurra. De família italiana, Motta já possuía a dupla cidadania desde pequeno, mas as poucas oportunidades com a seleção brasileira (jogou apenas duas partidas pela seleção sub-23) aliadas ao bom momento que viveu no futebol da bota – jogou no Genoa e na Internazionale – fizeram com que o jogador pedisse autorização para ‘virar a casaca’. A decisão positiva da FIFA (órgão máximo do futebol mundial) foi inédita, visto que Thiago já havia vestido a camisa verde e amarela em duas oportunidades.
O zagueiro Kepler Laveran Lima Ferreira, mais conhecido como Pepe, é de Maceió, mas joga ao lado de Cristiano Ronaldo pela seleção lusitana. Pepe foi para Portugal para jogar pelo Marítimo e após ser contratado pelo Porto em 2007, naturalizou-se português.
Motta (esquerda) marcando Iniesta no empate entre Itália e Espanha |
Na atual Eurocopa, o meia esteve em campo nas três partidas da fase de grupos e ajudou sua seleção a conquistar vaga para as quartas de final em grupo que contava com Espanha, Croácia e Irlanda. Foram dois empates em 1 x 1 com Espanha e Croácia, e uma vitória por 2 x 0 sobre os irlandeses, pelo grupo C.
Pepe comemorando gol de Portugal contra Dinamarca |
O jogador do Real Madrid (Espanha) fez um gol na primeira fase do torneio, na vitória por 3 x 2 de Portugal sobre a Dinamarca. Além desse resultado, os portugueses - que também contam com os meias Nani e Rolando, naturais de Cabo Verde - ganharam da Holanda por 2 x 1 e saíram derrotados no confronto com Alemanha (1 x 0), no grupo B.
O último brasileiro que participou do segundo maior torneio de seleções do mundo é Eduardo da Silva. O carioca-croata saiu do Rio de Janeiro para fazer parte das categorias de base do Dínamo Zagreb, do país do leste europeu, com apenas 16 anos. Em 2002, com 18 anos, Eduardo adquiriu cidadania croata e foi convocado para a seleção sub-21 do país.
Apesar da boa campanha, sua segunda pátria não conseguiu passar para a próxima fase da competição, sendo eliminado do grupo C de Espanha, Itália e Irlanda. Foram quatro pontos somados depois da vitória sobre Irlanda (3 x 1), empate com Itália (1 x 1) e derrota para a Espanha (0 x 1), sofrendo o gol da eliminação de Jesus Navas já nos ultimos minutos da segunda etapa. Além de Eduardo, Josip Simunic, nascido na Austrália, e Ivan Rakitic, que nasceu na Suíça, para onde sua família foi antes da guerra de independência da Croácia, deflagrada em 1991, são os outros representantes de outras nações no selecionado croata.
Até mesmo a Espanha, atual campeã da competição, contou com ajuda brasileira para erquer a taça. Em 2008, o meia Marcos Senna estava no grupo espanhol e foi uma das peças fundamentais na campanha do título, conquistado com o 1 x 0 sobre a Alemanha na decisão. Senna inclusive foi selecionado para a seleção do torneio.
As sedes Polônia e Ucrânia
A Polônia, sede da competição ao lado da Ucrânia, conta com duas ‘baixas’ consideráveis em seu elenco em função de trocas de nacionalidades. Os atacantes Miroslav Klose e Lukas Podolski são nascidos na Polônia, mas defendem, ironicamente, a Alemanha.
Klose nasceu em Opole, na Polônia, filho de pai jogador de futebol e mãe jogadora da seleção polonesa de handball. Seu pai, Josef Klose deixou o país em 1978 para jogar no Auxerre, da França, e voltou a viver com Miroslav e sua mãe em 1985, já na Alemanha. Já Lukas Podolski nasceu em Gliwice, na Polônia e aos dois anos foi para solos alemães, de onde seus avós vieram.
Por outro lado, o país-sede, onde teve início a Segunda Guerra Mundial, em 1939, também conta com reforço considerável de dois franceses de nascença, mas poloneses por opção. Ludovic Obraniak chegou a atuar pelas seleções inferiores da França, mas preferiu seguir sua carreira profissional pela seleção principal da Polônia. O zaqueiro Damien Perquis precisou até de autorização do presidente polonês Bronislaw Komorowski para conseguir a dupla nacionalidade em 2011, ja que sua família havia perdido alguns documentos necessários para o procedimento.
Entre os casos curiosos estão a maioria dos jogadores inscritos por Rússia e Ucrânia. Eles não são naturalizados, mas passam por situação peculiar já que muitos deles nasceram no período da já extinta União Soviética. Oficialmente dissolvida em dezembro de 1991, todos os nascidos antes desse período são soviéticos, mas assumiram outras nacionalidades com os diversos países que surgiram da divisão do território soviético.
A verdade é que, independente de questões de vínculos familiares, afeição com outra nação ou divisão de território, o mundo da bola é cada vez mais adepto a globalização e a redução de fronteiras. Derruba rivalidades históricas e permite que jogadores defendam as cores de sua nação. Não a de nascimento, mas a de coração.
Confira a lista dos jogadores da Euro-12 que não defendem os países em que nasceram:
Pepe - zagueiro (Brasil - Portugal)
Eduardo - atacante (Brasil - Croácia)
Keiren Westwood - goleiro (Inglaterra - Irlanda)
Sean St. Ledger - zagueiro (Inglaterra - Irlanda)
Jon Walters - atacante (Inglaterra - Irlanda)
Simon Cox - atacante (Inglaterra - Irlanda)
Miroslav Klose - atacante (Polônia - Alemanha)
Lukas Podolski - atacante (Polônia - Alemanha)
Ludovic Obraniak - meia (França - Polônia)
Damien Perquis - zaqueiro (França - Polônia)
Rolando - zagueiro (Cabo Verde - Portugal)
Nani - atacante (Cabo Verde - Portugal)
Emir Bajrami - meia-atacante (Iugoslávia - Suécia)
Marko Devic - atacante (Iugoslávia - Ucrânia)
Luuke de Jong - atacante (Suiça - Holanda)
Ivan Rakitic - meia (Suiça - Croácia)
Behrang Safari - meia-atacante (Irã - Suécia)
Aiden McGeady - atacante (Escócia - Irlanda)
Josip Simunic - zagueiro (Austrália - Croácia)
Jores Okore - zagueiro (Costa do Marfim - Dinamarca)
Steve Mandanda - goleiro (Congo - França)
Patrice Evra - lateral (Senegal - França)
José Holebas - zagueiro (Alemanha - Grécia)
Sotiris Ninis - meia (Albania - Grécia)
Guilherme Uchoa
Fotos: Agência AFP, divulgação UEFA e AFP
Guilherme Uchoa
Fotos: Agência AFP, divulgação UEFA e AFP
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